terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Cozinhar com palavras

Aprendi a ler antes mesmo de ir à escola, devorava sem cerimônia os livros de culinária da minha mãe e por meio das alquimias gastronômicas comecei a ter noções de gramática, matemática, história, geografia e a me familiarizar com vários idiomas. Sim, aos 6 anos já saiba o que era uma Vichyssoise (famosa receita de sopa fria criada em Nova York, na cozinha do hotel Ritz-Carlton, pelo chefe francês Louis Diat).

 Quando iniciei na escola, lembro da minha mãe manter um cardápio fixo durante os dias da semana, então associei os alimentos as atividades, o que explica minha aversão às quintas-feiras da educação física versus menu peixe. Ah, eu gostava mesmo era dos fins de semana, porque meus pais pediam colaboração e íamos todos juntos para ajudar a colocar o recheio na pizza ou apenas para ler as receitas e contar quantos nhoques eles haviam preparado.

 Ao longo dos anos, minha curiosidade em entender a panela alheia me levou a montar minha biblioteca de cozinha gourmet. Tem de tudo e mais um pouco e sempre fico em busca de novidades. O que me interessa não é colocar em prática  ou copiar as receitas, mas ler sobre cada prato, origem, tipos de preparo e nas entrelinhas como alcançaram aquele resultado.

 Cozinhar é uma arte que exige planejamento, dedicação, conhecimento e paixão. Tenho certeza de que a alquimia só é possível com esses ingredientes. Eu não cozinho tanto como gostaria, mas tenho o hábito de cozinhar com as palavras, ainda devorando sílaba por sílaba.

 Kelly Boscarioli é jornalista, diretora da KB! Comunicação e criadora do blog “A Cozinha da Sogra”

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